terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Cinema


Cada passo que a moça dava ia sendo acompanhado de longe pelos olhos dele. Olhos que há muito tempo não tinham essa liberdade para observar uma mulher atraente. Mas só durou até uma senhora, que se encontrava atrás dele na fila, chamar a sua atenção... Chegara a sua vez de comprar o bilhete. Não ia ao cinema sozinho há um bom tempo, e sabia que iria ser muito mais sem graça, mesmo achando que isso fosse o melhor no momento.

Ainda faltavam vinte minutos para o início da sessão e, sentado em um dos banquinhos da lanchonete do local, precisamente aquele que ficava quase encostado na parede, lia com atenção a lista com as sinopses dos filmes em cartaz. Estrearam alguns muito bons naquela semana. No momento em que levantou a cabeça, viu novamente aquela moça de quando estava na fila, desta vez entrando no cinema. Usava um vestido florido e sapatos de plástico. E percebeu o que realmente tinha chamado tanto a atenção para ela: era muito parecida com uma antiga namorada, apesar de uma grande diferença no comprimento e na cor dos cabelos. E não com essa que terminou com ele recentemente, parecia com a anterior, que ele não sabia sequer onde estava e quase nunca se lembrava dela no dia-a-dia, mas, mesmo assim, foi capaz de acabar com o seu relacionamento atual. E tudo de repente, de uma forma que, na mente dele, foi um completo absurdo! Enfim...

Na semana passada a garota que estava com ele fazia um ano achou antigas cartas da namorada anterior no fundo esquecido do guarda-roupa dele. E fez o maior escândalo... Em meia hora o relacionamento já tinha terminado por conta de algo que, segundo ele, era uma bobagem. Ninguém tem o direito de tentar apagar o passado de outra pessoa, e passado é passado, já passou. Porém, nada é mais difícil que convencer uma mulher ciumenta disso...

Chegou a hora de entrar na sala para ver o filme, mas ele esperou uns instantes a mais para olhar a moça, que parecia estar deixando o local sem se interessar por qualquer filme. Deixou de observá-la muito fixamente quando percebeu que passaria ao lado dele para chegar até a saída do cinema. Seguramente ela tinha um jeito muito familiar. Mas acreditava que era só isso, um jeito familiar, até o momento em que ela parou ao lado dele em vez de se dirigir a saída:
- Olá! Está lembrado de mim?