quarta-feira, 25 de maio de 2011

Colega

 
A conversa seguia alegre, recheada de toda uma camaradagem construída ao longo dos últimos meses. Ele já havia esquecido, naquele momento, toda a estranheza que havia sentido ao perceber essa reaproximação. Já estavam ali, embaixo daquela grande árvore, há quase uma hora e meia, apenas papeando sobre os assuntos do cotidiano. Como se fossem grandes amigos. Como se houvesse honestidade entre eles. Parecia mesmo...

Ao começarem a seguir andando, cada um em direção ao seu destino, o rapaz voltou a se lembrar do quanto estranho foi para ele esse momento. Assim como foram estranhas as duas semelhantes ocorrências anteriores. Sentando novamente ao pé da árvore onde estava momentos antes, passou a refletir: mas afinal, que problema há em esse caro colega continuar tentando manter essa proximidade? É que o camarada visivelmente não estava sendo sincero. Estava apenas simulando uma amizade, era perceptível. Comentários estranhos, desvios de olhares, sorrisos amarelos. Tudo isso é denunciador, para quem sabe observar. O caro colega já tinha até procurado e encontrado novas amizades no ambiente que frequentavam, o que é, obviamente, uma coisa muito boa. Porém, dava a impressão de que, para se dedicar a esses novos e empolgantes companheiros, ele teria que se desfazer daqueles antigos. E ele fazia isso. Meio constrangido, tentando fazer parecer que não fazia, mas fazia.

Ainda próximo à árvore, o rapaz se convenceu de que realmente o comportamento do colega, que se dizia amigo, não era de um amigo. Mas a grande questão que não conseguia decifrar era “por que”? Semanas atrás, as suas atitudes estavam atingindo o ponto do ridículo. Por vezes, afastou a cadeira quando este sobre quem dizia ser amigo sentou perto dele. Outras vezes chegou depois, e até se acomodou em local próximo, mas afastou um pouco o assento com fingida naturalidade, como se nada estivesse acontecendo. Coisa de babaca mesmo.

O rapaz não estava querendo cobrar uma amizade, que não se cobra. Apenas gostaria de um pouco mais de sinceridade e honestidade, características que realmente poucos buscam cultivar hoje em dia. Afinal, se ele queria se afastar que se afastasse, era um direito dele, mas pelo menos não fizesse isso agindo como um imbecil...

Finalmente ele deixou a árvore e seguiu em frente, para ocupar a mente com o que realmente era importante. Ou pelo menos tentava ocupar a mente, pois os resultados de suas reflexões teimavam em fazer intrusão nos seus pensamentos. Foi embora fazendo em si mesmo uma pergunta, como que dirigida para o seu prezado colega:

“O que pretende, caro colega? Não consigo te entender.”