terça-feira, 5 de abril de 2011

Segredo

O que se deve fazer diante de um segredo, cuja revelação pareça ser a atitude mais correta, ao mesmo tempo em que sua ocultação pode evitar grandes tristezas? Ela ainda não possuía uma idéia mínima do que faria, mas continuou a perseguição ao carro do irmão, indignada como estava, porém com cuidado para não ser reconhecida. Estava pensando em interrogá-lo ao se encontrarem. Os chuviscos e a noite estavam a seu favor e, mesmo assim, ela começou a se deixar ficar para trás. Já tinha percebido que o destino dele era mesmo o local onde moravam, e não era nem muito longe do ponto onde estavam naquele momento. Seu coração começava a acelerar, e um sentimento de culpa pela sua amiga brotou sutilmente. Havia sido a grande incentivadora para que acontecesse uma relação entre os dois e, agora que eles estavam noivos e perto do casamento, descobriu por acaso que seu irmão possui mais uma pessoa em sua vida. Observando de longe, no escuro, não conseguiu ver bem nenhum detalhe que pudesse ajudá-la a identificar a tal pessoa. Não saberia dizer sequer se o indivíduo em questão era mulher...

Ele era dois anos mais novo do que ela, e sempre deu muito mais preocupação para os pais do que a irmã. Já a primogênita, desde pequena, se acostumou a entregá-lo... O incentivo vinha da mãe, acostumada a conferir a ela ordens do tipo “o menino está muito quieto, vá lá ver que deve estar aprontando alguma coisa”. E ela, cruel, sentia um prazer enorme ao olhar para o garoto, com um sorriso bastante venenoso, e dizer: “peguei você, seu otário!”

Agora que é uma mulher adulta, não estava sentindo um mínimo de prazer em saber dessa “estripulia” do irmão. Muito menos com ele de casamento marcado com uma de suas melhores amigas. Chegou a segurar o telefone celular quando, fazendo o percurso entre a casa dos pais para o apartamento em que moravam, reconheceu o carro vermelho do irmão parado em um canto escuro, e uma movimentação pra lá de suspeita em seu interior. Mas não teve coragem de chamar o número da vítima em questão. Optou por ouvir, saber o que ele poderia ter a dizer, e depois decidir se contaria ou não. Estava amadurecida, ou pelo menos acreditava nisso, e não agiria como quando criança. Foi pensando assim que ela girou a chave e entrou no apartamento, onde encontrou o irmão sentado numa poltrona em frente à televisão, entretido ao observar a programação dos diversos canais. Ele só olhou para ela quando ouviu seu próprio nome, e se assustou com o modo como ela o fitava, os olhos semicerrados, a boca enrijecida. E a irmã, regredindo a sua fase de menina, acabou por deixar escapar um pequeno sorriso, um tanto irônico, ao repetir aquilo que tanto usou para atormentar o menino muitos anos antes: “peguei você, seu otário!”

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