sexta-feira, 19 de abril de 2013

Espera


Quando ela olhou para o pulso, tomou um grande susto! Passou das vinte horas! Desse jeito o cunhado ia acabar chegando antes da irmã... Já estava apreensiva e acabou ficando ainda mais, pois teria que mentir. Não sabia o que dizer e era péssima mentirosa, não possuía criatividade para isso. Acabou por desligar a televisão, e pensou em fazer uma sopa para quando os dois já estivessem em casa. Cozinhar poderia ajudá-la a se acalmar, só que não conseguiu fazer nada. Apenas esperou. Pensava nas encrencas que sua irmã já havia se envolvido desde pequena. Não tinha como imaginar que fazer essa visita iria se tornar em algo tão tenso... Começou a planejar arrumas suas malas e voltar para sua casa já na manhã seguinte. Não queria se ver no meio de uma confusão, iria embora imediatamente se pudesse.

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Na adolescência, a irmã se encantou com o homem que se tornou seu atual marido. Desde a primeira vez que o viu em cima de um palco com uma guitarra, em um estabelecimento simples qualquer. Tocava em uma bandinha. Sonhou com ele, com a guitarra, com fama, dinheiro, capas de revista... Anos depois, a menina acordou casada com ele. Ainda possuindo uma guitarra, que fica esquecida no quartinho dos fundos. Hoje ele não costuma tocar nem suas músicas preferidas por diversão. É funcionário público, enquanto a esposa estuda arduamente para ser aprovada em um concurso também. Vivem bem, mas sem capa de revista. Viverão bem, talvez, até o dia em que ela se tornar independente.


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Entrou na cozinha, novamente disposta a fazer uma sopa. Cortou alguns legumes, pegou um pacote de macarrão e parou pensativa diante da pia da cozinha... Vencida pela ansiedade, deixou tudo lá e caminhou até sala da entrada, deitando no sofá maior. Rezando para a irmã chegar primeiro. Nove minutos depois, ouviu barulho de chave abrindo a porta. Sentou no sofá e encarou a porta, que se abriu em seguida. Era a caçula, que logo que a notou perguntou pelo marido, com expressão tensa. A mais velha apenas disse “não chegou”, encarando-a. “Ótimo, vou correndo tomar um belo banho”, foi a reposta que ouviu. Ela nunca conseguiu fazer a irmã explicar direito como conheceu o homem com quem estava saindo. Descobriu apenas se tratar de um advogado, que ela conheceu “conhecendo”. Também sabe que se encontram e se despedem em uma praça não muito distante da casa dela. De lá a caçula termina o percurso andando.

Ela foi terminar a sopa enquanto a irmã se lavava. Em poucos minutos chegou o cunhado, logo entrando na cozinha e elogiando o cheiro da comida. Ele chegou com uma garrafa de vinho e com mais alguma outra coisa, que ela não observou o que era. “Demorei porque fui comprar isso pra ela e pra mim, hoje é um dia importante”, disse mostrando a garrafa. Antes mesmo de ela perguntar, ele revelou ser aniversário do dia em que se conheceram. Não costumavam comemorar esse tipo de data, mas ele resolveu fazer diferente. “Ela nem deve ter lembrado...”, disse o cunhado. “Ela deve ter lembrado sim, deve ser por isso que está tomando esse banho tão demorado.” Mentiu bem.

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