Quando ela
olhou para o pulso, tomou um grande susto! Passou das vinte horas! Desse
jeito o cunhado ia acabar chegando antes da irmã... Já estava apreensiva e acabou ficando
ainda mais, pois teria que mentir. Não sabia o que dizer e era péssima mentirosa,
não possuía criatividade para isso. Acabou por desligar a televisão, e pensou em fazer uma sopa para quando os dois já estivessem em casa. Cozinhar poderia ajudá-la
a se acalmar, só que não conseguiu fazer nada. Apenas esperou. Pensava nas
encrencas que sua irmã já havia se envolvido desde pequena. Não tinha como
imaginar que fazer essa visita iria se tornar em algo tão tenso... Começou a
planejar arrumas suas malas e voltar para sua casa já na manhã seguinte. Não
queria se ver no meio de uma confusão, iria embora imediatamente se pudesse.
***
Na adolescência,
a irmã se encantou com o homem que se tornou seu atual marido. Desde a primeira
vez que o viu em cima de um palco com uma guitarra, em um estabelecimento
simples qualquer. Tocava em uma bandinha. Sonhou com ele, com a guitarra, com
fama, dinheiro, capas de revista... Anos depois, a menina acordou casada com
ele. Ainda possuindo uma guitarra, que fica esquecida no quartinho dos fundos. Hoje
ele não costuma tocar nem suas músicas preferidas por diversão. É funcionário
público, enquanto a esposa estuda arduamente para ser aprovada em um concurso
também. Vivem bem, mas sem capa de revista. Viverão bem, talvez, até o dia em
que ela se tornar independente.
***
Entrou na
cozinha, novamente disposta a fazer uma sopa. Cortou alguns legumes, pegou um
pacote de macarrão e parou pensativa diante da pia da cozinha... Vencida pela
ansiedade, deixou tudo lá e caminhou até sala da entrada, deitando no sofá
maior. Rezando para a irmã chegar primeiro. Nove minutos depois, ouviu barulho
de chave abrindo a porta. Sentou no sofá e encarou a porta, que se abriu em
seguida. Era a caçula, que logo que a notou perguntou pelo marido, com expressão
tensa. A mais velha apenas disse “não chegou”, encarando-a. “Ótimo, vou
correndo tomar um belo banho”, foi a reposta que ouviu. Ela nunca conseguiu
fazer a irmã explicar direito como conheceu o homem com quem estava saindo. Descobriu
apenas se tratar de um advogado, que ela conheceu “conhecendo”. Também sabe que
se encontram e se despedem em uma praça não muito distante da casa dela. De lá
a caçula termina o percurso andando.
Ela foi
terminar a sopa enquanto a irmã se lavava. Em poucos minutos chegou o cunhado,
logo entrando na cozinha e elogiando o cheiro da comida. Ele chegou com uma
garrafa de vinho e com mais alguma outra coisa, que ela não observou o que era.
“Demorei porque fui comprar isso pra ela e pra mim, hoje é um dia importante”,
disse mostrando a garrafa. Antes mesmo de ela perguntar, ele revelou ser aniversário
do dia em que se conheceram. Não costumavam comemorar esse tipo de data, mas
ele resolveu fazer diferente. “Ela nem deve ter lembrado...”, disse o cunhado.
“Ela deve ter lembrado sim, deve ser por isso que está tomando esse banho tão
demorado.” Mentiu bem.
Muito bom!
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