quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Aniversário

Um pouco ofegante após subir as escadas que levam ao seu apartamento, ele sentou em frente à televisão e ligou no jogo. A partida já estava em seus vinte minutos do segundo tempo, empatada em zero a zero. Havia andado muito depressa no trajeto entre o mercado e o apartamento, o risco de chuva era iminente. E fazia um ventinho frio...

Estava já tirando um cochilo quando o apito do árbitro o despertou. O zero a zero persistiu até o final... Que chato! Com uma chuva mais forte começando a cair lá fora, ele foi até a mesa e retirou o bolo da embalagem. Uma torta pequena, branca, com a inscrição “Feliz Aniversário” feita em chocolate ao leite. Precisaria de uma vela? Só para cumprir o ritual, foi até o quarto desabitado da casa, onde sabia ter deixado umas velas novinhas. Estavam em cima de uma cama de casal, empoeirada, vazia... Ele preferia dormir na de solteiro, no quarto menor, sabe-se lá por que. Retirou uma única vela do pacote e voltou ao bolo, já de posse também de um isqueiro. Enquanto isso, na televisão, um comentarista polemizava o resultado da partida... Seria um absurdo assim tão grande o líder do campeonato empatar com o último colocado? Enfim, deixou o bolo lá e foi tomar um banho...

A chuva já caía pesada quando deixou o banheiro, e ele saiu correndo para fechar as janelas. Melhor se agasalhar bem... Com pressa por causa do frio, se vestiu rapidamente, desligou o televisor e voltou à sua torta. E de pé, diante da mesa, permaneceu por uns instantes fitando a inscrição de chocolate. “Feliz Aniversário”. “Feliz Aniversário...”. Finalmente ele pegou o isqueiro, acendeu a vela e sentou na cadeira. E parou observando a chama. Estático. Até que notou que os olhos estavam úmidos, e os apertou para evitar que transbordassem... E os abriu, com um olhar um tanto furioso, e soprou a chama. E o sopro saiu tão forte que a vela ficou à semelhança da Torre de Pisa... É amigo, seu tempo já passou... Feliz aniversário!

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